Formas de fazer dinheiro fácil
são "o pão nosso de cada dia" nas publicidades enganosas (ou não) que proliferam
na Internet. A oferta é apelativa, afinal, quem não gostaria de ter uns trocos
extra na carteira ao fim do mês? Com a recente crise e com o natural colapso de
muita empresas, muitos vêem o regresso à agricultura como um dos poucos meios ainda ao dispor das populações para fazer
algum dinheiro. Dentro da agricultura, uma das áreas de quem os "eruditos" dizem que pode
ser das mais rentáveis é a apicultura. Os apicultores torcem o nariz a esses
dizeres…
Uma perspetiva macabra.
Pesquisando mais uma vez na
Internet sobre apicultura à procura de tópicos que falem da sua rentabilidade, somos na maior parte das vezes bombardeados com conselhos de
apicultores experientes e até outros menos experientes, a nos dizerem para não nos
metermos na apicultura "de cabeça". A aconselharem a não recorrermos a um
projeto com ajudas estatais e comunitárias. Conselhos a nos dizerem para nunca
entrarmos no negócio das abelhas com um empréstimo a crédito. Na maior parte das vezes basicamente somos
aconselhados a termos meia dúzia de colmeias no quintal e vivermos felizes com
isso. O próprio C.C.Miller (pai do 'metódo Miller' da criação de rainhas e uma referência mundial na apicultura) disse: "devo dizer que apicultura é um bom negócio para se deixar em paz, com as mesmas capacidades físicas e intelectuais que você usa para viver de apicultura, você seria capaz de viver muito melhor de qualquer outro trabalho." (A Thousand answers to beekeeping questions edição de 1917 Pagina 18) É o cenário assim tão mau como se pinta?
Os problemas da profissionalização
Ter meia dúzias de colmeias no
quintal, posso garantir, na maior parte das vezes, é rentável. Então, se é
rentável no quintal, porque não poderá ser rentável em “vários quintais”. Bem,
primeiro porque no nosso quintal não gastamos combustível para visitar e
cuidar das colmeias. No quintal, e com meia dúzia de colmeias, conseguimos
monitorizar todas, aumentado em muito as hipóteses de sucesso. No quintal, se
falharmos, podemos ter um prejuízo razoável, Em “vários quintais”, isto seria um prejuízo
muitas vezes irrecuperável até porque não podemos esquecer que temos de pagar o investimento. O que poderá falhar?
O conhecimento
Para que suas colmeias no quintal
possam produzir e gerar lucro, é preciso que você, o apicultor, saiba lidar com
as abelhas. É preciso saber detetar doenças, rainhas velhas, reconhecer boas florações melíferas, utilizar o meneio
adequado a cada estação, etc. etc. Para saber lidar com todos esses pontos é preciso
saber trabalhar com abelhas. Portanto, se você está interessado em ser
apicultor profissional, tenha muito, mas mesmo muito conhecimento sobre
abelhas. Faça formações, trabalhe com quem sabe, aprenda e aprenda muito antes
de avançar. Este é um dos fatores chaves para o sucesso. Mas não é o único.
O gosto pelas abelhas
Aprender algo que não gostamos
pode ser frustrante. No curso de apicultura que frequentei, numa turma de 20
alunos, apenas 2 se tornaram apicultores. Houve (sem exagero) quem tivesse
terminado o curso de duração de 1 ano meio, a lidar com abelhas quase
diariamente, que não sabia distinguir um Bombus
de uma abelha melífera. Porquê? Falta de gosto pela atividade. Eu não
recrimino. A maioria não estava ali por escolha mas sim por imposição. Quantas
vezes nós já não nos metemos numa coisa por gosto mas que ao fim de um certo
tempo perdemos a “pica” da coisa? Eu quando me iniciei adquiri umas colmeias
velhas feitas à mão por um ex-apicultor que desistiu da atividade. Reparei no
trabalho manual que aquele apicultor teve outrora ao fazer aquelas construções.
Foi certamente o gosto pela apicultura que o moveu a ser tão minucioso nos
pormenores da construção daquelas caixas, fundos e tampas para abelhas. Mas, um dia ele
desistiu e ofereceu as colmeias ao primeiro que se mostrou interessado em
adquiri-las de graça. Portanto, antes de pensar em ser apicultor profissional,
tenha as tais “meia dúzia de colmeias no quintal” e verifique se ama mesmo a
apicultura. A apicultura é um trabalho muito duro, cheio de altos e baixos nos
sucessos. Verifique se consegue lidar com isso.
Rentabilidade
Como é referido, e bem, por
muitos apicultores, a maior riqueza que se pode ter da apicultura é
precisamente viver ao lado de uma coisa que gostamos muito de fazer, vê-la
crescer, cuidar dela, estar com ela “diariamente”. Mas, e se quisermos fazer
desse amor o nosso emprego a tempo inteiro? Bem, não é sem razão que muitos
alertam para os perigos de nos metermos "de cabeça" nesta atividade. Apicultura é
uma atividade agrícola que está sujeita a muitos fatores. Um mau ano climático
pode fazer de uma colmeias que produziu 40 kg o ano passado, produzir zero este
ano. Agora veja isso numa escala grande. Se você tiver um empréstimo bancário
para 300 colmeias e num determinado ano seu lucro for zero ou perto disso, como
poderá pagar suas obrigações? E o que você comerá neste ano? No tal quintal com
meias dúzia de colmeias ainda nos conseguimos safar num mau ano, mas com 300…
Se conseguirmos minimizar o
impacto nefasto das falhas nos pontos chaves de sucesso, ter uma apicultura rentável
é bem possível. As produções médias de mel de uma colmeia podem se situar nos
20 kg/ano nos Açores. As cooperativas locais oferecem preços a rondar desde os
3 aos 5€/kg. no continente português essa oferta ao mel a granel rondara os 2,5 a 3€/kg (isto não mencionando valores referentes a mel DOP ou Biológico). Uma colmeia ainda pode produzir um ou dois subprodutos como o pólen
ou própolis. Num ano e sem grande impacto nas produções, ainda pode nos dar um
novo enxame. Faça as contas e veja. Se seu quintal é lucrativo, vários quintais
podem ser muito mais. Mas se o objetivo é ficar rico, desengane-se, é muito mais fácil
ficar rico noutra atividade qualquer do que na apicultura, mas se quer viver do
seu trabalho, sim, é possível, arriscado, mas possível. Qual o caminho então? Não me arrisco a indicar um caminho especifico, mas sugiro que veja a possibilidade de crescer de uma forma sustentável. Começar devagar e ir expandindo a exploração conforme as possibilidades será porventura a forma menos arriscada. Programas como o PRODER/PDR ou o PRO-RURAL são uma alternativa bem mais arriscada. Só não tanto arriscada como a de concorrer a "solo" a um crédito bancário.
O caso Açoriano
(Se o leitor não é Açoriano, este post já acabou para si.
Agora uma parte dirigida aos leitores Açorianos deste blog:)
Não seria a primeira vez que eu,
autor deste blog, criticaria as entidades competentes na área apícola nos Açores.
Há trabalho feito pelas cooperativas e um muito péssimo trabalho feito
pelas entidades governantes. Que tem
a ver com a rentabilidade apícola? Tudo!
É com gosto que acompanho muitos
blogs apícolas nacionais e estrangeiros e vejo o crescimento das explorações apícolas,
os seus sucessos e falhanços. Há muitas e muitas criticais ainda a fazer a nível
nacional pelo fraco desenvolvimento da apicultura. Mas mesmo assim ainda há condições
para apurar raças melíferas produtivas. Há condições para fazer transumância. Há
condições para se ter um apiário de 100 colmeias desde que a floração o
permita. Em contraste, nos Açores não há transumância a sério pois não se justifica
pela dimensão das ilhas. (Embora neste caso seja a geografia a culpada, a verdade é que lá se vai um dos fatores chaves de sucesso na
apicultura profissional 'por água abaixo').
Não há importações de material genético para rainhas
mais produtivas, e pior, não há apuramento genético do que já existe no arquipélago.
(Lá se vão dois fatores chaves de sucesso para uma apicultura profissional). Não
que eu defenda a reabertura do mercado de enxames, nada disso, mas tendo em conta a dificuldade em selecionar material genético com as abelhas locais, não deveriam os serviços agrícolas, que deveriam existir para servir os apicultores/agricultores, tomar a dianteira neste assunto? E que tal dar vida ao santuário, perdão, laboratório
de inseminação artificial pago com dinheiros públicos mas que não funciona nem há perspetivas de que alguma vez funcione? As ilhas Canárias têm um dos materiais genéticos apícolas de maior excelência
do mundo. Alguma semelhança com os Açores é literalmente pura coincidência. Os serviços agrícolas tem em sua posse várias colmeias, mas não
há informação de quaisquer resultados decorridos dessa posse. A pergunta que fica no ar para quem
começa a ficar por dentro da realidade apícola na ilha de S. Miguel é:
De que forma a secção apícola serve os apicultores da ilha afinal? Eu
não sei. Alguém sabe? Será que tem isso a ver com o facto de haver muitos apicultores a trabalhar na referida secção? Todos sabemos que ha muita inimizade entre alguns apicultores. Se alguém está a se servir do cargo que ocupa para se benificiar pessoalmente ou prejudicar outros que seja verificado. Como diz o povo, onde há fumo, há fogo. E há muito fumo no ar.
Nos Açores só são permitidos 25 colmeias por apiário.
Porquê 25? Porque não 40 ou 50? Porque não se discute esses assuntos com os
apicultores? (bem, com isto, já se vão 3 fatores chaves de sucesso para uma
apicultura profissional pelo cano abaixo).
Pesquisas necessárias para um real levantamento do potencial melífero dos Açores tem sido feitas todos os domingos de tarde na Papua Nova-Guiné desde os anos 20, não se sabe é dos resultados das pesquisas, mas que têm sido feitas, lá isso têm. Um reencaminhamento dos fundos destinados a pesquisas, direcionados exclusivamente ao departamento de Biologia da Universidade dos Açores seriam, digo eu, um bom princípio.
Com a sua geografia, mesmo assim será possível apicultura profissional nos
Açores? Bem, nas ilhas maiores e apenas nestas, há umas 3 explorações
profissionalizadas e mais umas quantas semiprofissionalizadas. Tire suas próprias
conclusões…
Realmente também gostava de saber quem escreveu mas está covardemente em anónimo.
ResponderEliminarQuanto a mim, bem me pareceu que devia ter escrito sobre artesanato.