Páginas

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Qual a melhor colmeia




Uma das perguntas básicas e que mais se faz quando se começa nas lides apícolas é: "Qual é a melhor colmeia?" A resposta que se segue (normalmente por parte do apicultor mais experiente) é algo do género: “Não existe colmeia ideal, cada um tem a sua opinião. A minha é…” e segue-se a opinião pessoal daquele apicultor apresentando as razões para tal escolha.
As colmeias são no entanto diferentes umas das outras e não podem ter resultados iguais. Assim, a importância da escolha da colmeia para a atividade é algo que não deve ser desconsiderado.

Importância da região

A região onde se vai desenvolver a atividade apícola é de suma importancia na escolha do modelo de colmeia. A região onde você mora tem um tipo de microclima específico o que influencia também a flora melífera. As temperaturas dentro das colmeias são controladas com maior ou menos facilidade dependendo dos modelos de colmeias. As reservas disponiveis numa colmeia assumem importancias diferentes nas regiões onde vai ser praticada a apicultura. 


Importância da rainha

Segundo se diz e escreve na literatura apícola, uma rainha pode produzir entre mil e mais de três mil ovos diariamente. A postura duma rainha varia conforme a idade, raça, entrada de néctar na colónia, sua genética, qualidade das ceras, fecundação bem-sucedida ou não e tendências climáticas da região onde está inserida.

 Objetivo da exploração

Partindo do princípio que a rainha provém duma boa prole, é jovem, foi bem fecundada, o local do apiário é bom e as ceras são de boa qualidade, só resta saber para que propósito se destina a criação de abelhas. O propósito mais comum é a produção de mel. Partindo desse pressuposto, analisemos os 3 modelos mais comuns de colmeias utilizados nos Açores. 

Colmeia Lusitana

É sabido que para uma colmeia produzir bem, tem de ter uma boa população, ou seja, uma colónia forte produz mais do que 2 fracas, que juntas, equivaleriam em número de abelhas à colónia forte. Neste aspeto, dos 3 modelos de colmeias mais comuns, a Lusitânia fica em vantagem pois tem uma capacidade de albergação dum maior número de abelhas. Essa colmeia no entanto apresenta algumas desvantagens começando logo pelo preço. Dos 3 modelos mais comuns o que normalmente é comercializado a preços mais elevados é a Lusitânia. Outra desvantagem apontada no clima específico açoriano é devido às temperaturas amenas que temos, uma colmeia dessa dimensão a não estar bem fortalecida, pode ter imensos problemas com o frio. Outra desvantagem é o arranque do enxame numa colmeia de tão grande dimensão. É sabido que nos Açores temos floração quase todo o ano pois não temos períodos de estiagem, mas, no entanto, não temos grandes florações como no caso das grandes monoculturas existentes em outras partes do planeta. Por isso para um enxame numa colmeia Lusitânia arrancar em força leva mais tempo que as suas “rivais” ficando assim em desvantagem nesse ponto. Mesmo assim há quem apresente boas vantagens. A rainha no seu estado natural tem tendência a fazer a postura em círculos. Começa no meio do quadro e vai alastrando para os lados. (Por isso é que se recomenda o uso de meias alças em colmeias reversíveis para evitar a postura da rainha na parte destinada ao mel) como das três colmeias a que tem uma forma do quadro mais quadrangular é a Lusitânia, esta é mais apetecível para as rainhas fazerem postura.
Postura em circulo em quadro Lusitânia
Foto: apimoreira.blogspost.pt
Também, de inverno, devido à grande capacidade de armazenamento no ninho, dificilmente terá de se alimentar o enxame para este aguentar o inverno.  O controlo de enxameação é melhor regulado neste modelo pois a rainha leva algum tempo a encher o ninho. Uma face do quadro Lusitano tem capacidade para 3825 alvéolos.


Colmeia reversível

Uma das grandes vantagens desta colmeia em relação à Lusitânia é no arranque. Uma colmeia reversível (em condições favoráveis) arranca de tal forma "rápido" que uma distração por parte do apicultor pode levar a uma enxameação indesejável. Também, no mercado, esta é a colmeia que apresenta os preços mais competitivos. Mantém os quadros em forma quase quadrangular sendo assim uma vantagem em relação à langstrot. O peso é bastante mais leve que as restantes colmeias o que facilita o transporte. Devido às alças serem iguais ao ninho, esta colmeia também é muito boa na poupança de material, enquanto que na langstroth e lusitânia temos de ter normalmente dois tipos de material (ninho e meias alças). A principal desvantagem desta colmeia a meu ver está no tamanho do ninho que propicia a postura da rainha na alça tendo-se assim de usar um sobreninho. "Um sobreninho?" pensarão alguns, "um sobreninho acarreta custos". Sim, mas pense na dinamica da reversivel, no final da época pode-se fazer a creta e ainda nos "sobram" ninho e sobre-ninho na colmeia. Se no inverno temos o hábito  de deixar apenas o ninho, das 2 uma: ou retiramos os quadros de reservas que estao no sobreninho o que nos aumenta a produção de mel, ou fazemos um ou até dois desdobramentos de fim de época (de preferencia com rainhas previamente preparadas). Em que outro modelo poderá fazer isso? Dificilmete arriscar-se ia mexer nas reservas ou nas abelhas do ninho de outros modelos de colmeias. Outra alternativa para tentar combater o fenómeno da criação nas alças foi a criação da meia alça reversível pois acredita-se que esta desencoraja a postura da rainha nessas zonas. Da experiência que tenho, isso nem sempre é verdade pois já me deparei com quadros de meias alças repletas de criação, no entanto acredito que de certa forma os casos de postura são reduzidos com meias alças. (Para mais informações sobre postura em meias alças, leia sobre o método de Manuel Oksman, apicultor argentino de renome)
Meia alça repleta de criação operculada
Foto: apimoreira.blogspost.com
Na altura da cresta pensar-se-á que este modelo de colmeia é a o que produz menos. Mas isso não corresponde à realidade. E digo isto porque? Porque apesar da menor capacidade de armazenamento de mel e de abelhas, também não deixa de ser verdade que em pouco tempo uma colmeia reversível enche o ninho, possibilitando a colocação de um sobreninho ou de efetuar mais desdobramentos e consequentemente mais enxames, mais produção. 


Colmeias Langstroth

É o modelo mais utilizado em todo o mundo. Na verdade, tanto a colmeia reversível como a Lusitânia foram adaptadas deste modelo. Tem a vantagem de ter material disponível em todo o lado. Até da China se pode encomendar material para a langstroth. Isto nos Açores não é propriamente uma vantagem visto estarmos "isolados" do resto do mundo e os restantes modelos também terem boa representação cá na região. A nível de preços digamos que está na posição intermédia, ou seja, não costuma ser tão cara como a Lusitânia nem tão barata como a reversível. O seu quadro tem capacidade de albergar 3570 alvéolos por face ficando na posição intermédia. Normalmente são usadas meias alças que permitem diminuir o peso na altura da cresta. Tem um ninho suficientemente grande para a postura da rainha sem apresentar grandes problemas de postura nas meias alças. Mesmo assim há quem aposte na colocação de um sobreninho ou numa primeira meia-alça como complemeto do ninho. 

Afinal qual o melhor modelo?

Tal como escrevi na introdução, quando é feita essa pergunta, o apicultor responde que não há consenso quanto a isso mas, de seguida normalmente dá a sua opinião pessoal. Valendo-me disso, passo a dar a minha  opinião pessoal: sou da opinião que o modelo que apresenta mais vantagens nos Açores é o reversível. Isto porque é a colmeia mais barata, mais leve (ideal para trasumar), que apresenta melhor dinâmica de materiais, mais rapidamente se fortalece para as alturas das florações, é mais facilmente aquecida durante o inverno devido à sua pequena dimensão, possibilita mais desdobramentos mantendo assim as produções e é perfeitamente adaptada à flora açoriana pois como temos floração constante em praticamente todo o ano, não temos necessidade de grandes reservas no ninho. Usando dupla câmara de ninho, não há melhor para mudar ceras ou fazer desdobramentos. Claro que tem algumas desvantagens em relação às outras mas que a meu ver podem ser facilmente colmatadas. Apenas se exige da parte do apicultor mais atenção para não deixar a colónia enxamear, e um melhor monitoramento da postura da rainha se está a passar ou não para as alças. Em caso positivo, acrescentar mais uma alça ou colocar grade excluidora são soluções. Devo acrescentar que não sou grande adepto de meias alças nas reversiveis e essas minhas dessecações baseiam-se nesse pressuposto.
O debate sobre qual a melhor colmeia surge diversas vezes entre conversas de apicultores e até hoje as opiniões tem sido sempre muito divididas. Cabe a cada um ver no seu caso pessoal qual o modelo que melhor se adequa à sua realidade tendo em conta o objetivo pretendido, a região onde você se insere, qualidade das mestras ou tempo pretendido para despender com as abelhas.

Sem comentários:

Enviar um comentário