Instalar um apiário hoje em dia
na ilha de S. Miguel é complicado e cada vez mais, isto, devido à falta de
lugares disponíveis ou disponibilizados para implementação de apiários na ilha.
Há quem aponte como solução a redução das distâncias entre apiários.
Pessoalmente discordo profundamente da alteração dessa lei porque apenas
iríamos colocar problemas semelhantes aos que hoje existem no Continente,
a saber, a densidade excessiva na implementação das colmeias. Há zonas em
Portugal Continental em que os apicultores têm de recorrer a alimentação de emergência
durante o inverno para colmatar a falta de alimento para as abelhas na
natureza. E depois claro que também as produções tem sido muito mais reduzidas.
Voltado ao assunto em pauta, para
os felizardos que ainda conseguem terrenos para implementar apiários e
sobretudo para os novos apicultores, (pois é velos por ai aos magotes,
provavelmente devido à onda de desemprego que se faz sentir) vou tentar fazer um
pequeno resumo das regras básicas de instalação de apiários. Na verdade,
instalar um apiário nos Açores não difere muito de instalar um apiário no Continente,
ou em Espanha ou em outro lugar qualquer. A única coisa que difere são as distâncias
regulamentares.
O terreno onde será implementado
o apiário deverá ser de bom acesso que possibilite a aproximação de um veículo para o transporte de material,
pois acreditem, um apiário longe dos meios de transportes tem fama de abrir
muitas e muitas dores nas costas dos apicultores. O terreno deve ser plano e,
se não for, o apicultor deverá fazer com que fique, pelo menos na zona
onde irão assentar as colmeias. As colmeias devem dentro do possível ficar voltadas para o lado
onde o sol nasce. Se isso não for possível, então o sul poente deverá ser a segunda melhor
opção. Em outros sítios do planeta há quem as vire para outras direções, mas sinceramente
não tenho conhecimento dos resultados desse tipo de montagem. O que se sabe é
que uma colmeia sobre a qual o sol incide na tábua de voo logo pela manhã, as
abelhas campeiras dessa colónia são estimuladas a começar o trabalho logo cedo. É prudente deixar um espaço atrás das colmeias que possibilite a aproximação e meneio do apicultor sem ter de passar pela frente das colónias. Isto é importante não só para segurança do apicultor, mas para não interferir com as abelhas campeiras que estão a regressar do campo. As colmeias nunca devem ficar junto ao chão pois isso provocaria um desgaste prematuro no
material e atrai mais facilmente formigas e outros bichos que importunam as
abelhas, para além da humidade a que o enxame fica sujeito. Assim, deve-se
elevar as colmeias do chão uns 20 a 50cm para um bom manuseamento. Podem usar-se
blocos de cimento com vigas em madeira ou em ferro a fazer de suporte para as colmeias. Os
blocos pintados não absorverão tanta água protegendo assim as vigas em madeira. As
vigas a ser em madeira devem ser fortes pois uma colmeia cheia de mel pode atingir um peso
superior a 50 kg. Lembre-se que o principal inimigo que temos nos Açores para
as colónias é a humidade. Mais do que o vento, mais do que o frio, é a humidade
que pode dizimar um enxame, e, nos Açores, a humidade é uma constante, por isso a
escolha de um local para o apiário deve ter em conta esse fator. Zonas onde
habitualmente existe nevoeiro, devem ser evitadas para instalação de apiários.
Por exemplo, as Sete Cidades em S. Miguel é uma zona com excelente floração,
talvez dos melhores sítios da ilha neste aspeto. No entanto, é sabido que a
viabilidade de criação de abelhas nesta zona é reduzida. Mesmo quem lá tem apiários,
normalmente retira-os por altura do inverno. Em contraste, o Nordeste que
apesar de ser uma das zonas mais frias da ilha, é viável manter lá um apiário
todo o ano sem grandes problemas pois trata-se dum Conselho que tem um clima
seco. O frio açoriano faz moça apenas em colónias pequenas que não têm abelhas suficientes para se aquecerem ou com reservas insuficientes.
Por lei os apiários devem ser rodeados em
todos os lados com sabes vivas ou muros com 2 m de altura no mínimo. Posso
dizer que é raro o apiário que cumpre com essa regra, por isso se não for possível,
essa será a primeira e se calhar a única lei que deverá desconsiderar. (No entanto,
se apanhar uma multa, não diga que fui eu quem disse isso :P) Mesmo que
desconsidere essa lei, convém sempre ter em atenção que é preciso proteger
pessoas e animais da “fúria” das abelhas. Infelizmente em S. Miguel as nossas
abelhas são todas híbridas e não há inseminação artificial e como tal é difícil
fazer uma seleção genética de abelhas mansas. Outros tempos houve em que tínhamos a abelha italiana em estado puro, uma raça extremamente mansa, mas que não se conseguiu perpetuar devido ao espaço geográfico a que estamos limitados e aos fundos públicos investidos num laboratório de inseminação artificial que em vez de abelhas, está às moscas. Assim, sendo as nossas abelhas relativamente agressivas
como geralmente o são, é necessário ter cuidados, nomeadamente por colocar vedação sempre
que possa haver pessoas ou animais por perto. A situação ideal relativamente à sobra necessária de verão ou ao Sol desejado de inverno, é colocar o apiario debaixo de uma latada de vinha ou Castanheiro pois no verão tais plantas fornecem sombra com as suas folhas caducas e no inverno perdem-as permitindo a passagem dos raios solares. O apiário deverá ser instalado no mínimo a
50 m de qualquer habitação ou estrada (excetuam-se caminhos agrícolas). Deverá
ter uma distância mínima do apiário mais próximo de 500 m e não deve exceder as
25 colónias. (Núcleos equivalem a 0,5 colónias). Não menciono a água que deverá
estar sempre disponível para as abelhas pois, excetuando-se se calhar Sta. Maria, a água
nos Açores é uma constante não constituindo grandes problemas. O apiario deverá conter o número de apicultor num local bem visível. Obviamente, antes de instalar o apiário
deverá regista-lo nos serviços de desenvolvimento agrário da sua ilha.